- Uma
definição colaborativa -
Este
é um trabalho que pretende definir o conceito de “sociedade em rede” tal como é
entendido na atualidade, nas suas diferentes conceções, bem como distingui-lo
de sociedade da informação e do conhecimento.
Os
seres humanos são sociais na sua essência, têm necessidade de se relacionar e
de expandir as suas relações, procurando resolver necessidades afetivas,
físicas e materiais. Não surpreende, assim, que o Homem opte por viver em
grupos, nos quais desenvolve elos complexos de interdependência comercial,
ideológica, religiosa, etc. Sempre vivemos em rede de uma ou de outra forma e,
neste sentido, o próprio conceito de sociedade se confunde com rede.
Sociedade
em rede, no entanto, corporiza um novo paradigma de relações sociais que,
embora assentes em nós relacionais que constituem uma trama semelhante às
anteriores, se servem de uma teia com características extremamente distintas
que, em si, conferem um padrão totalmente diferente ao tecido relacional.
Se
antes este esquema social padecia de restrições espácio-temporais e se tecia
num tear de pequenas dimensões, atualmente o tear atingiu uma escala planetária
e deixou de se submeter a qualquer tipo de restrição. Se o processo envolvia
essencialmente uma rede de contactos locais e as permutas eram lentamente
efetivadas de forma pessoal e com um acesso temporal e espacialmente restrito à
informação, hoje o processo é quase instantâneo e de caráter global graças aos
desenvolvimentos na área das comunicações, especialmente a Internet.
Sociedade
em Rede
"A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação
do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em
rede" (M. Castells)
(Titulo: Huge Social network visualization de Elner Von Denen) |
Sociedade
e Rede são dois termos que se conjugaram para definir o recém sistema
relacional das comunidades do século XXI. Importa, pois, perceber a abrangência
destes vocábulos e deslindar a forma como, tendo-se fundido, se redimensionam
para cunhar o conceito completamente novo de sociedade em rede.
A
definição de Sociedade não é simples nem linear tal como não é simples nem
linear a própria estrutura social. Trata-se de um sistema relacional
interdependente composto por todos os seres humanos que, ocupando um
determinado espaço num determinado tempo, partilham diferentes traços de união
entre eles (interesses, culturas, família, vizinhança, trabalho, origens,
opções políticas, tradições, etc), elementos que determinam a sua forma de
organização e relacionamento. Rede, no sentido que aqui importa destacar,
designa uma estrutura em que vários elementos se entrelaçam, formando uma
malha. Sociedade e Rede são, por isso, termos que à partida se harmonizam,
considerando que o tecido social é, em si, uma rede e sobrevive nesses
elementos relacionalmente enredados. A atualidade, no entanto, trouxe uma nova
rede à rede.
As
sociedades sempre viveram em rede, ou em redes, e a comunicação, condição
necessária para a vivência em comunidade, foi acompanhando e dando respostas às
necessidades destas redes sociais. Com a transição do modelo económico
capitalista para o modelo económico neoliberal, a sociedade passou a
caracterizar-se por contínuos avanços científicos que proporcionaram uma forte
globalização económica e cultural. A Internet e as modernas tecnologias de
comunicação passaram a permitir que a informação circulasse em grandes
quantidades, sem restrições de fronteiras e em curtos espaços de tempo. Neste
contexto, Bernstein (1996) enfatizou que a transição se processou de uma
sociedade baseada em recursos físicos (matérias - primas, força de trabalho,
instalações etc.) para uma sociedade fundada em informação e conhecimento.
Castells (2005), por seu lado, observou que o avanço tecnológico mais recente
proporcionou um aumento exponencial do efeito de rede no esquema social ao
interligar pessoas numa transcendência geográfica e temporal. A expansão
permanente das novas tecnologias, que permitiu o aumento significativo da
comunicação a nível local e global, tornou possível a interatividade de muitos
para muitos, e a sociedade tem sucessivamente incorporado esta ferramenta na
sua dinâmica, transformando-se.
Neste
contexto, o vocábulo rede tornou-se mais abrangente, de acordo com Guerreiro
(2006:317), rede é, também, a difusão de informação que se produz localmente
com a perspetiva de se propagar globalmente através diferentes meios de
comunicação, a partir de protocolos alfanuméricos de interoperabilidade que
possibilitam a Internet tal como a conhecemos. Em consequência, a relação
social também se tornou mais abrangente e transformadora, não surpreende, pois,
que a determinado momento a palavra Sociedade pareça insuficiente para exprimir
a nova realidade e o vocábulo Rede demasiado presente para se confundir com a
tradicional relação social.
Castells
(2005) cunha o conceito de sociedade em rede para exprimir as novas dimensões
desta estrutura social mais recente que, associada à emergente era digital,
substitui gradualmente a sociedade da era industrial. O conceito, tal como o
define, abrange as diferentes dinâmicas de relações humanas que, ao contrário
das dinâmicas anteriores, contam com uma teia tecnológica de caráter digital,
suportada e estimulada pela Internet, para colocar o conhecimento e a
informação em movimento, possibilitar permutas e criações constantes, a uma
escala planetária e sem constrangimentos. Se este recente esquema relacional
não surge por causa da tecnologia mas devido a imperativos de ordem social, sem
a tecnologia informática de redes de comunicação ela não poderia existir tal
como a conhecemos. Assim, a sociedade em rede é a estrutura social baseada em
redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na
microeletrónica em redes digitais de computadores que geram, processam e
distribuem informação a partir de conhecimentos acumulados nos nós dessas redes
(Castells e Cardoso, 2005:20). A fluidez reticular, a flexibilidade, a expansão
e transformação permanentes são traços determinantes deste novo mundo
desterritorializado.
Para
Minconi (2008, p.153-154) a sociedade em rede é a generalização de uma lógica
em rede que substitui os tradicionais modelos verticais de domínio por um
esquema horizontal. Di Felice (2008, p.57-58) apelida-a de "sociedade a
código aberto", considerando que nela se constroem conteúdos e há uma apropriação
do mundo através das tecnologias digitais. Segundo Rodrigues (2005), todos os
que vivem em sociedade estão, de alguma forma, a incorporar um espaço público
de uma relação, de uma rede e ter consciência disso é um passo em direção à
cidadania inquieta, à possibilidade de escolha entre contribuir mais ativamente
para o desenvolvimento da comunidade ou não, entre ter um comportamento
responsável ou não diante da coletividade. Entender que o homem vive e constrói
a sociedade em rede é perceber que nela o conhecimento gera poder - o poder da
escolha e da transformação.
As
potencialidades e o poder transformador deste fenómeno de reticularização não
deixam, inevitavelmente, de ter traços paradoxais. Castells, em Castells e
Cardoso (2005:18), relembra que “a sociedade em rede [se] difunde por todo o
mundo, mas não inclui todas as pessoas.” A reflexão remete para duas realidades
diferentes mas igualmente preocupantes: por um lado o acesso às ferramentas que
dinamizam os novos movimentos sociais é desigual, o acesso no sentido físico
mas também no sentido das competências; por outro a apropriação das ferramentas
nem sempre tem o potencial transformador incorporado pois, tal como refere
Silverstone (citado em Castells e Cardoso, 2005:31) “sendo a Internet uma tecnologia,
a sua apropriação e domesticação pode também ocorrer de forma conservadora e
assim actuar apenas enquanto propiciadora da continuidade da vida social tal
como ela se encontrava pré-constituída.”
Aquilo
que na sociedade em rede pode significar uma vantagem massiva e inclusiva,
pode, de igual modo, resultar na massiva exclusão social e no congelamento do
futuro. A difusão e acesso desiguais às tecnologias bem com a deficiente
apropriação das novas ferramentas criam constrangimentos que devem ser pensados
e incorporados na rede de otimização do tecido social do século XXI.
A Sociedade em Rede e a Sociedade da Informação e do
Conhecimento
A
sociedade em rede consubstancia-se no novo ambiente social e tecnológico – era
digital, permitindo a comunicação a nível local e global e a expansão
permanente das novas tecnologias trazendo um aumento significativo de
interatividade de muitos para muitos.
Porém,
não significa o mesmo que sociedade da informação e do conhecimento. Esta
corresponde à sociedade com novas capacidades de (re) organização recorrendo às
tecnologias da informação e da comunicação com actividades que têm por base as
redes de comunicação digital. O desenvolvimento das tecnologias traz alterações
profundas: globalização, aceleração e instantaneidade da circulação da
informação, a realidade mediatizada pela tecnologia, dando origem ao homo
digitalis.
Miranda
(2000) citado por Lima e Santine (2008:41) afirma que o fenómeno que melhor
caracteriza este funcionamento em rede é a convergência progressiva que ocorre
entre produtores, mediadores e usuários em torno dos recursos, produtos e
serviços de informação. O alcance dos conteúdos é potencialmente universal,
resguardadas as barreiras linguísticas e tecnológicas.
O
conceito de Sociedade da informação é tratado por diversos autores, sob óticas
diferentes, convergindo na mesma ideia. Segundo Castells (2002) “A Sociedade de
Informação é um conceito utilizado para descrever uma sociedade e uma economia
que faz o melhor uso possível das Tecnologias da Informação e Comunicação no
sentido de lidar com a informação, e que toma esta como elemento central
de toda a atividade humana”.
Sendo
assim, falar da sociedade da informação é referenciar-nos a uma sociedade em
que o intercâmbio de informações é a atividade social predominante. Fazendo uso
de todas as tecnologias disponíveis, os indivíduos que compõem esta sociedade
processam, armazenam, selecionam e usam ferramentas que facilitam a comunicação
e a troca de experiências entre si, tendo como resultado a construção de novos
conhecimentos.
Segundo
Borges (2004) “O Conhecimento por ser, em grande parte, resultado da partilha
coletiva de significados, é necessariamente construído em sociedade promovendo
valores como a colaboração, a partilha e a interação, independentemente de
qualquer tipo de filiação ou pertença.”
De
acordo com Sorj (2003) citado por Silva et al. (2010:218) sociedade do
conhecimento seria um tipo de sociedade que se volta para certo tipo de
conhecimento, "o conhecimento científico", a partir do qual se
desenvolve a capacidade de inovação tecnológica, principal motor da expansão
económica no mundo contemporâneo.
Por
outro lado, Tedesco (1999) aborda a questão da produção do conhecimento
científico e a normatização da veiculação deste conhecimento produzido de um
para muitos. O autor chama atenção para o “surgimento de conflitos que levam à
necessidade da criação de acordos e legislação para proteger os direitos da
propriedade intelectual”.
Sobre
a relação entre Sociedade da Informação e Sociedade do Conhecimento, o
subdiretor geral da UNESCO para a Comunicação e Informação, Abdul Wheed Khan,
declara: “Sociedade da Informação é o tijolo para construir o edifício da
Sociedade do Conhecimento”. Nesse sentido, percebe-se que o conhecimento se
constrói a partir das informações socializadas pelos produtores intelectuais,
isto é, dos produtores do conhecimento científico. Logo, tal conhecimento
se não for expandido para outros sujeitos, torna-se inútil. De nada valeria uma
produção científica que tivesse um fim em si mesma.
De
acordo com Castells (1999), a estrutura social de uma sociedade em rede resulta
da interacção entre o paradigma da nova tecnologia e a organização social num
plano geral. A comunicação em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é
global, é baseada em redes globais. Então, a sua lógica chega a países de todo
o planeta e difunde-se através do poder integrado nas redes globais de capital,
bens, serviços, comunicação, informação, ciência e tecnologia.
Castells
(1999), afirma que a sociedade em rede também se manifesta na transformação da
sociabilidade. O que nós observamos, não é o desaparecimento da interacção face
a face ou o acréscimo do isolamento das pessoas em frente dos seus
computadores. Sabemos, pelos estudos em diferentes sociedades, que a maior
parte das vezes os utilizadores de Internet são mais sociáveis, têm mais amigos
e contactos e são social e politicamente mais activos do que os não
utilizadores. Além disso, quanto mais usam a Internet, mais se envolvem,
simultaneamente, em interacções, face a face, em todos os domínios das suas
vidas. A sociedade em rede é uma sociedade hipersocial, não uma sociedade de isolamento.
Assim
sendo, sociedade em rede é uma entidade que transcende categorizações
atribuídas à Sociedade da Informação, à Sociedade do Conhecimento ou à
Sociedade da Informação e do Conhecimento.
Sociedade em Rede: o impacto na sociedade actual
A Internet
é um meio de comunicação interactivo, diferente dos restantes meios de
comunicação, na medida em que pressupõe uma interactividade e exige maior
participação por parte do “receptor”, que é cada vez mais, em simultâneo,
“emissor”(Castells, 2003).
As
múltiplas transformações introduzidas pelas tecnologias digitais podem causar
mudanças subjetivas comparáveis àquelas causadas pela Revolução Industrial ao
longo dos séculos XIX e XX (Silveira, 2004, citando Nicolaci-da-Costa (2002c).
Para Castells (2003) pela primeira vez na história existe uma capacidade em
massa de comunicação que não é intermediada por empresas ou pelos mass media. A “Sociedade
em Rede” é fruto dessas transformações, económicas, tecnológicas, sociais e
culturais que se verificaram neste fenómeno que é a globalização e que abrangem
todas as camadas sociais em todas as regiões do mundo.
Segundo
Castells (2008) o ciberespaço é a sociedade em rede, aldeia global, um cenário
dinâmico baseado no fluxo e troca de informação, capital e cultura. Existe nela
uma diversidade de produtos e serviços que provocam uma mudança no quotidiano
de todos os segmentos, social, cultural, económico, político e educacional
(Carpes, 2001).
A nível social, as
pessoas, tendem a usar a Internet para atividades similares às existentes antes
do advento dessa tecnologia: enviar e receber email em substituição das
ligações telefónicas e ao correio tradicional e para obter notícias, pesquisar
informações, fazer compras e divulgar atividades profissionais. Por outro lado,
crianças, adolescentes e adultos mais jovens adotam novos usos para a Internet.
Eles usam-na para a formação de novas relações de amizade e amorosas e para se
integrarem em grupos virtuais, que funcionam como os grupos da vida real (Clay,
2000; Gonçalves, 2000; Kraut et al., 2003; Nicolaci-da-Costa, 2002a e 2002b).
Podemos afirmar que qualquer tipo de relacionamento está cada vez mais
articulado pela ligação em rede, desde o surgimento de novas amizades ao
encontro entre pessoas fisicamente distantes (Silveira, 2004).
A nível económico,
diversificam-se e multiplicam-se os fluxos de informações financeiras e
comerciais em todo o planeta, segundo Moraes (2003), citado por Carpes (2001).
A globalização também leva a fusões e reestruturações de empresas, mudanças de
capital e de unidades de produção para outros países onde a mão-de-obra é mais
barata, sendo a gestão feita a nível central. Estes fluxos impulsionam mudanças
no modelo organizacional que somente se tornam possíveis através de tecnologias
de comunicação e softwares integrados através da Internet (Moraes, 2003, p.
193).
No trabalho verificam-se modificações a nível da
sua estrutura, organização e forma (Levy, 2003; Castells, 2000), que são
caracterizadas pelo surgimento de novos postos de trabalho, cargos que são mais
flexíveis e com capacidade de adaptação tanto no local como no desenvolvimento
do mesmo. Consequentemente verificam-se novas exigências no que diz respeito à
procura de trabalhadores, que devem ser cada vez mais especializados. Terêncio
e Soares (2003) avaliam a Internet como uma ferramenta útil para o
desenvolvimento da identidade profissional (Silveira, 2004).
A
influência da Sociedade em Rede na Cultura
Local e Global, é uma questão que tem levantado algumas
questões, pois esta cultura global não está limitada ao individualismo, ao
materialismo e consumismo. Também dela fazem parte a democracia, os direitos
humanos, a igualdade e a liberdade individual (Morin, 2002). Carpes (2011)
levanta uma questão importante colocada por Arnett (2002): estes valores estão
longe de serem universais, uma vez que estão “centrados na liderança de países
industrializados do Ocidente e, muitas vezes, entram em conflito com as
culturas locais”. As pessoas adoptam, de certa forma, esta cultura global como
complemento à sua cultura local antagonizam-se a ela.
Segundo
Hargreaves (2003) “A sociedade do conhecimento é uma sociedade de aprendizagem”
(Lisbôa, et al. 2011). A produção de conhecimento depende da capacidade de
adaptação do individuo às mudanças emergentes, continuando a aprender de forma
autónoma e colaborativa. Esta capacidade de aprendizagem ao longo da vida é,
segundo Fisher (2000), o aspecto “mais central na construção da nova ordem
social”. Neste contexto surgem novas questões e responsabilidades à escola/
educação, que enfrenta desafios na forma de ensinar (e aprender) nesta nova sociedade
em que a criatividade e a inovação determinam o sucesso da economia.
A
utilização de redes sociais na educação tem gerado forte controvérsia.
Defendidas por uns, e contestadas por outros, a verdade é que a sua eficácia e
impacto são inquestionáveis e a escola não se pode alhear dessa nova realidade
que afecta todas as esferas da sociedade actual. As escolas “acordam lentamente
para esta nova realidade, mas os jovens trazem a Web 2.0 para os computadores
da escola e usam as redes sociais naturalmente no seu quotidiano para os mais
diversos fins” (Caldeira, 2011).
Um
dos grandes contributos que a escola poderá dar é preparar os alunos para os
novos desafios: ensinar a gerir a informação e garantir a gestão metacognitiva
do conhecimento, ou seja, apoiar no desenvolvimento de competências de
aquisição, interpretação e análise da informação e espírito crítico (Pozo e
Postigo, 2000 citados por Lisbôa, et al., 2011). É inevitável que a escola e os
seus agentes repensem a forma de ensinar para a apropriação das novas formas de
aprender e de se relacionar com o conhecimento.
Estamos
perante uma nova “identidade” para o professor, que através da utilização das
novas tecnologias, deverá estar preparado para estimular a criação colectiva, a
criatividade, espirito critico e reflexão dos seus alunos. Só assim a “educação
será capaz de atender as demandas de um futuro próximo” (Lisbôa, et al. 2011).
Concluindo,
a rede deixa de ligar máquinas e passa a unir pessoas, processo com implicações
sociais profundas (Caldeira, 2011).
O
mundo virtual sugere, de facto, inúmeras possibilidades em todos os aspectos da
vida, diante deste facto Lévy (2007, p. 104) reforça o conceito de ciberespaço
que “designa ali o universo das redes digitais como lugar de encontros e de
aventuras, terreno de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural”.
O
desenvolvimento acelerado das novas tecnologias está a provocar uma metamorfose
radical e global, em todos os aspetos da vida social e familiar, sendo, por
isso, necessário reconhecer a importância das TIC em todos os ramos da vida
social e profissional; que a informação é sinónimo de poder e que o poder está
no conhecimento; que as profissões privilegiam cada vez mais o uso da
informação e das TIC, provocando alterações ao nível da organização das
empresas e nas formas de nelas se trabalhar, obrigando a uma flexibilidade e
mobilidade no mundo do trabalho e do ensino, onde a aprendizagem deve ser
autónoma e autorregulada, ao longo da vida.
Diante
deste cenário, vários desafios se levantam. O primeiro deles é tentar garantir
a democratização do acesso às mais variadas formas, meios e fontes por onde
circula a informação para que possamos construir uma sociedade mais equitativa.
Por outro lado, devemos desenvolver competências e habilidades para transformar
essa informação em conhecimento, tendo em conta valores como a solidariedade, o
respeito, a diversidade, a interacção, a colaboração, a criatividade e
sobretudo, a nossa capacidade de ousar, de inventar, de inovar e, ao mesmo
tempo, de sermos capazes de avaliar os riscos dos nossos atos. Concordamos com Lisbôa,
et al. (2011) quando afirmam que “temos plena convicção que isso só poderá ser
alcançado por meio da educação”.
Considerações
finais
A
realização deste estudo, que pretendeu construir coletivamente uma definição de sociedade em rede levou
o grupo, à superação de diversos desafios.
Enquanto
indivíduo, o desafio está em como abstrair uma real compreensão do que já foi
dito e, sem sobreposição, conseguir complementar; adicionar tijolos à
construção deste conhecimento que aos poucos foi se desenhando. Terá sido este
sim o real desafio?
Certamente,
outros podem ser listados, quais sejam os de lidar com as novas ferramentas
fruto das modernas tecnologias da informação e comunicação; praticar
empaticamente os novos recursos didáticos na qualidade de aluno e não de
professor; experimentar a autonomia na construção de novas competências sem a
gerência da tão tradicional figura do professor a guiar a aprendizagem, por
meio do ensino.
Sobre
esta caminhada, que em si já comporta aprendizagens significativas, há que
reconhecer que ainda há muito a aprender. Todavia, no que toca à construção
coletiva, largos passos foram dados.
Na definição de Sociedade em Rede,
paradoxalmente, constrói-se a compreensão deste conceito em construção que
abarca, na sua estrutura, o entendimento de sociedade da informação e do conhecimento,
bem como a constatação que a rede hoje deixa de simplesmente ligar máquinas,
para unir pessoas numa dimensão global, o que interfere diretamente no
comportamento das pessoas e promove profundas mudanças sociais. As mudanças que
caracterizam esta sociedade em rede referem-se aos vários aspetos da vida
humana.
Uma
breve análise dos séculos XX e XXI permite-nos constatar que a espécie humana
está a iniciar uma nova fase da sua história, que muito deve ao desenvolvimento
das TIC, tecnologias de rede e da internet. Estes acontecimentos trouxeram
inúmeros benefícios à vida cotidiana da população mundial de uma forma
generalizada. Economia, política, cultura, educação e sociedade foram todas
influenciadas e modificadas nos últimos anos. No entanto, seria míope avistar
este contexto de forma unicamente positiva.
O
excesso de informações e a rapidez da sua veiculação combinam a escassez de
espaço e tempo para a abstração e para a reflexão, podendo dificultar o
aprendizado e contribuir para uma cultura caracterizada pela superficialidade,
pela padronização e, sobretudo, pela valorização da imagem em detrimento da
palavra.
Ainda
que isso não deva ser tomado como absoluto em todos os casos, pois ainda
existem abstração e reflexão no mundo de hoje, também não seria prudente
desconsiderar os riscos desta nova cultura emergente. A valorização de formas
de expressão apoiadas no sensorial, narrativo, dinâmico, emocional e
sensacionalista participa do desenvolvimento de determinadas maneiras de agir,
pensar e sentir, caracterizando um novo momento histórico, que traz consigo
ganhos significativos para os indivíduos e suas organizações. Por outro lado, a
desvalorização do abstrato e simbólico, do analítico, estático, racional,
previsível e rotineiro traz consigo perdas igualmente significativas e,
portanto, merecedoras de atenção e cuidado.
No
percurso para construção da definição de Sociedade em Rede,
considerando a dimensão planetária em que se insere esta sociedade, este estudo
elucida a necessidade de procurar, individualmente e pelas formas organizadas
da sociedade, a democratização do acesso à informação, ao tempo em que se faz
necessário o desenvolvimento de competências e habilidades para transformar
estas informações em conhecimentos úteis que tenham as tecnologias e as
relações que, por seu intermédio, se estabelecem como forma de construção de
uma sociedade mais justa e igualitária.
Por
fim, entende-se que esta sociedade em rede permite estudos, trabalhos
colaborativos, sociabilização e todos os outros aspetos da vida humana que
possibilitam as pessoas e organizações aprenderem e interagirem juntos para, em
escalas nunca imagináveis, conviver, interagir, trabalhar, inovar, teorizar e
recriar novos caminhos para uma sociedade melhor.
Sociedade em Rede reflete a presente estrutura social que, alavancada pela difusão de novas tecnologias de comunicação, esbate as barreiras do tempo e do espaço, promovendo uma sociabilidade mais rápida, mais próxima, mais conectada e mais competitiva. Coloca o ser humano numa rede colaborativa na qual se cria, se transforma e se acumula sucessivamente informação a uma escala global sem precedentes. A nossa tarefa, ainda que em pequena escala, expressa a materialização clara de Sociedade em Rede enquanto exemplo das suas potencialidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bernstein,
B. (1996). Pedagogy,
symbolic control and identity. Londres: Taylor & Francis.
Borges,
L. (2004). Sociedade
da Informação. Porto: Universidade Fernando Pessoa. Acessado em
18.11.2014 de: www.2.ufp.pt.
C. R.
M. & Santini, R. M. (2008). Produção Colaborativa na Sociedade
da Produção. Rio de Janeiro: E-papers.
Caldeira,
R. (2011).Potencialidades
das redes sociais virtuais na educação e no trabalho da biblioteca escolar. Acessado
em 23.11.2014 de: http://www.legenda-torga.com/index.php?option=com_content&view=article&id=763:potencialidades-das-redes-sociais-virtuais-na-educacao-e-no-trabalho-da-biblioteca-escolar&catid=26:sociedade&Itemid=80,
Carpes,
G. (2011). As
redes: Evolução, tipos e papel na sociedade contemporânea. Revista
ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis. v.16, n.1,
p. 199-216
Castells,
M & Cardoso, G. (Org.) (2005). A Sociedade e Rede: do conhecimento
à acção política. Belém: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Castells,
M(1999). A
sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1.
Castells,
M. (2002). A
Sociedade em Rede a era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura.
Volume I. Fundação Calouste Gulbenkian.
Castells,
M. (2005). A
Sociedade em rede a era da informação: Economia, Sociedade e Cultura. Volume
I. 2.º edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
D,
Gisele. R, Aires. Sociedade do Conhecimento: características, demandas e
requisitos Knowledge Society: characteristics, demands and requirements.
DataGramaZero - Revista de Informação, v.12 n.5 .
2011. Retirado de:http://www.dgz.org.br/out11/Art_01.htm style="line-height:
1.231;">.
Di
Felice, M.(2008).Das tecnologias da democracia para as tecnologias da
colaboração. In: Di Felice, M.(org). Do público para as redes: a
comunicação digital e as novas formas de participação social. São
Caetano do Sul, SP: Difusão Editora
Ericsson
[Networked Society] (04-07-2013). Now I Get the Networked Society. Ericsson Company, consultado
a 19-11-2014.
Gadotti,
M. (2005). Educação,
Sociedade & Culturas: Que potencialidades?, nº 23, pp. 43-57.
São Paulo. Acessado em 16.11.2014 de: http://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-adelina-processos-ensino-aprendizagem.pdf
Guerreiro,
E. P. (2006). Cidade Digital: infoinclusão e tecnologia em rede.
São Paulo: Editora Senac.
Kreisler, H. (2001). Identity and Change in the Network
Society. Conversations with History Blog.Acessado em
15-11-2014 de: http://globetrotter.berkeley.edu/people/Castells/castells-con0.html
Lévy,
P. (2001). A
conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São
Paulo: Ed. 34, pp. 189.
Lisbôa,
et al. (2011). Sociedade da Informação, do Conhecimento e da
Aprendizagem: Desafios para a Educação no século XXI. Universidade
do Minho. Acessado em 19.11.2014 de: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/14854/1/Revista_Educa%C3%A7%C3%A3o,VolXVIII,n%C2%BA1_5-22.pdf
Miconi,
A.(2008). Ponto
de virada: a teoria da sociedade em rede. São Caetano do Sul, SP:
Difusão Editora
Rodrigues,
G.(2005). Construção de redes: um processo educativo em comunidades. Acessado
em 15.11.2014 de: http://hdl.handle.net/10183/67776
Silva,
A. K. A. et al. (2010). O conhecimento e as tecnologias na sociedade da informação
(Vol. 33, No 1, pp. 213-239). Colombia:
Revista Interamericana de Bibliotecologia. Acessado em 15.11.2014
de: www.scielo.org.co/pdf/rib.v33nl/v33nla09.
Silveira,
M. (2004). Efeitos
da globalização e da sociedade em rede via Internet na formação de identidades
contemporâneas. Brasília. Acessado em 18.11.2014 de: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000400006
Tedesco,
J. C. (1999). O novo pacto educativo: educação, competividade e
cidadania na sociedade moderna: Porto: Fundação Manuel Leão.
Sem comentários:
Enviar um comentário