Fonte da imagem: http://www.diarioliberdade.org/
A visão
alarmista de Paul Virilio, leva-nos a uma definição da Era da informática como
sendo algo perigoso. Esta Era remete-nos para uma perda da noção do real, onde
é a máquina o ditador e o homem o seu escravo:
“Nós estamos no “tempo-máquina”; o tempo humano é
sacrificado como os escravos eram sacrificados no culto solar de antigamente.”
Entrevista a
P. Virilio 2011
Não há duvida
que a sociedade está a ser consumida pelas tecnologias de comunicação. Basta
olharmos atentamente para a forma como tudo o que nos rodeia se altera, quer a
nível económico e politico, para nos apercebermos que a tecnologia e os
processos que dela dependem estão totalmente dependentes dela mesma.
Contudo seria
impensável a sociedade como a conhecemos, viver sem esta tecnologia, pois ela é
vista como algo indispensável em qualquer área da vida humana. Aliás, a
velocidade com que a tecnologia avança em termos evolutivos é exponencial, e
essa rápida evolução está efetivamente a alterar o comportamento do ser humano.
Contudo para Virilio, a utilização massiva das máquinas, levou-nos a uma perda
da noção da realidade, sendo a máquina que controla o homem e não o homem que
controla a máquina.
O homem é um
ser curioso, ambicioso e inteligente, que atingiu um patamar nunca imaginado no
que se trata do domínio sobre o conhecimento tecnológico. Mas será que a
utilização das tecnologias que ele mesmo construiu está a ser utilizada de
forma correta?
Velocidade é a
palavra central dos pensamentos de Virilio quando se fala de ciberespaço. Para
este pensador, a realidade é definida por um mundo virtual onde se pode estar
em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum, acabando desta forma por se
perder a noção de tempo e espaço.
Ele
acredita que vivemos de forma superficial na medida em que vivemos na Era
da Dromologia. Esta define o estudo da velocidade –Dromo, do grego – corrida,
ou seja a lógica da corrida.
A dromologia é
um conceito que surgiu pela primeira vez no livro intitulado “Velocidade e
Política” (1977), e assenta no pressuposto de que o que acontece está
relacionado com a sua velocidade a que ocorre. É
o estudo da velocidade, do ritmo a que estamos expostos enquanto
cibernautas.
Para Virilio a pressa tem como propósito o exagero na superficialidade
não havendo espaço para a reflexão. A Era da Dromologia carateriza-se na
medida em que vivemos todos numa sociedade em rede, onde o ritmo é voraz,
impossibilitando a reflexão sobre os processos vividos, daí a superficialidade
que Virilio refere. Deste modo, a relação que Virilio constrói à volta da
cibercultura é a de que há uma total perda de liberdade de ação no que conta à
escolha pelos cibernautas. Conseguimos nos dias de hoje observar os
comportamentos dos indivíduos em geral, incluindo os jovens, que criaram uma
dependência obscena na utilização das tecnologias, chegando ao ponto em que não
conseguem viver sem a sua utilização. São indivíduos que estão presos à máquina
e que “sofrerão o conjunto dos problemas da comunicação, adquiridos no curso
dos últimos séculos da técnica” (VIRILIO, 1999, p.43).
Já foram
inumaras as vezes em que assistimos a grupos de jovens que se comunicam por via
da internet, dando preferência à partilha virtual do “agora”, aquando na
presença uns dos outros, privando-se de viver o real.
Para este pensador, a história contemporânea é filha da
velocidade, que aliada à guerra formam as fundações da sociedade. Podemos
afirmar que, a supervalorização da tecnologia na sociedade aliada à
velocidade de informação que presenciamos enquanto sociedade em rede, leva-nos
ao abismo da guerra informacional. Virilio chega a comparar a guerra
terrestre com a guerra cybernautica. Nos noticiários já assistimos várias vezes
a este tipo de situações, tendo como exemplo o caso de Julian Assange com
a WikiLeaks.
Observando a velocidade com que a tecnologia abraça e
se apodera da sociedade, Virilio questiona-se se conseguirá a nossa existência
quotidiana aguentar o tempo real suportado pelas tecnologias.
A revolução e
rápida evolução tecnológica, levou-nos ao encontro de uma nova sociedade, de um
novo modo de vida. Enquanto antigamente os esquemas da sociedade eram vistos em
pequenas dimensões, onde pequenos grupos de pessoas interagiam presencialmente,
hoje em dia o processo do aparecimento deste conceito é de caracter global
devido ao desenvolvimento tecnológico quer nas áreas da comunicação, dando um
lugar de destaque à internet.
Segundo
Castells, o ciberespaço é a sociedade em rede, onde há a partilha e troca de
informação.
“A revolução
da tecnologia de informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma
nova forma de sociedade, a sociedade em rede” (M. Castells)
Por outro lado
Lévy vê o ciberespaço como o meio da criação da cibercultura.
Sempre que se
fala sobre cibercultura, as opiniões divergem em dois pontos de vista:
otimista, em que olham a cibercultura e toda a sua relação com a sociedade como
sendo uma relação mais democrata e justa de comunicação; ou pessimista, na
medida que acreditam que a sociedade é vítima dessa cibercultura.
Paul Virilio
partilha da visão pessimista e marca uma posição anti “Era da Informática”. Ele
chega a comparar a Internet com a cultura norte-americana, acusando-a de
controlo universal. Caracteriza a internet como sendo um instrumento de
opressão das sociedades.
Se nos
debruçarmos um pouco sobre a questão pessimista de Virilio, verificamos que a
evolução tecnológica, o facilitismo de partilha de algo por parte de cada
individuo, através de meios que todos nós conhecemos como por exemplo um blog,
o twitter, é exacerbada e exagerada. Essa partilha de informação poderá ser
vista como partilha de desinformação, uma vez que todos nós, utilizadores da
internet, temos acesso a instrumentos que nos permitem publicar qualquer coisa.
O mar de informação ou desinformação é tão vasto que se tornou impossível
moderar e avaliar se o que nela navega é autêntico.
Sendo a
velocidade o termo central na reflexão de Virilio, podemos invocar a visão de
Lévy quando refere que com a velocidade de alteração de informação que circula
na rede, torna-se humanamente impossível recolher do todo, uma amostra do que é
mais importante uma vez que o “dilúvio
informacional jamais cessará.” Levy, P (1999)
Para Virilio,
a desinformação que é lançada na internet, é vista como o culminar da vida
privada de cada individuo. Tendo em conta que a internet surgiu para fins
militares – Arpanet – Virilio mantém esse propósito nesta Rede Mundial que
todos nós utilizamos diariamente vendo nela uma arma de destruição.
Em “La fin de
la vie privée”, Virilio fala-nos de como o desequilíbrio criado pelo
aparecimento do ciberespaço e das novas tecnologias de informação e
comunicação, não são apenas as alterações ao nível económico e político mas sim
a nível quotidiano. As pessoas dão preferência à vida virtual, onde a
curiosidade pela vida alheia, domina grandemente o individuo, tornando-o
prisioneiro dos meios informáticos.
Em conclusão, Paul
Virílio, filósofo, arquiteto, urbanista, nascido a 1932 em França, anuncia “o
ciberespaço”, como “um acidente do real” em que o acidente faz parte integrante
da “criação tecnológica”.
Desta forma, o
Ciberespaço torna-se numa visão de fachada na qual a realidade sofre acidentes
e é destruída, dividida entre o real e o virtual. Para Virilio, a “realidade
virtual é o acidente da própria realidade” e partilha uma visão pessimista
marcando uma posição anti “Era Informática”, sendo esta uma Era particularmente
perigosa, na medida em que vivemos no “tempo máquina” onde o homem surge como
um dependente das tecnologias. Esta influência tecnológica, está a alterar o
comportamento humano assim como a noção de espaço e tempo.
Com a
velocidade da evolução tecnológica, o facilitismo de partilha de informação,
através das redes sociais tornou-se uma epidemia ao nível global. O ciberespaço
é visto por Virilio como um campo de guerra, onde se travam batalhas de índole
política, religiosa, social e económica.
A velocidade é
outro termo chave na visão de Virílio, e com ela nasce a Dromologia que é o
estudo dos efeitos da aceleração da velocidade nas sociedades. Para Virílio a
realidade é definida por um mundo virtual onde se pode estar em todos os
lugares e ao mesmo tempo em nenhum.
“…esta súbita reversão dos limites introduz, desta vez no
espaço comum, o que até o momento era da ordem da microscopia: o pleno não
existe mais, em seu lugar uma extensão sem limites desvenda-se em uma falsa
perspetiva que a emissão dos aparelhos ilumina.”
Virilio (1993, p.10)
A distância
fica assim extinta no seu sentido de dimensão física. Nesta visão dos factos, a
existência de uma aproximação física, dá lugar ao anonimato. Não podemos
esquecer que nos tempos que correm, as pessoas estabelecem quer ligações quer
transações sem precisarem de um encontro físico, provocando o afastamento da
convivência social.
Deixo-vos com
uma frase de Virilio que nos fará pensar mais um pouco:
“De que serve a um homem ganhar o mundo inteiro se ele
termina por perder sua alma?”
(Virilio 1993)
Retirado em https://www.youtube.com/watch?v=KqZOQXkg5SE
Bibliografia:
Castells, M (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra,
1999. v. 1;
Lévy, P
(1999). Cibercultura. Tradução:
Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Edições 34;
Virilio, P. (1996) Velocidade e Política. Tradução: Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Estação
Liberdade;
Virilio, P. (1999)
A Bomba Informática. São Paulo:
Estação Liberdade.
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