Etiquetas

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O Fenómeno da Cibercultura - Visão pessimista de Paul Virilio


A visão alarmista de Paul Virilio, leva-nos a uma definição da Era da informática como sendo algo perigoso. Esta Era remete-nos para uma perda da noção do real, onde é a máquina o ditador e o homem o seu escravo:

“Nós estamos no “tempo-máquina”; o tempo humano é sacrificado como os escravos eram sacrificados no culto solar de antigamente.”
Entrevista a P. Virilio 2011
Não há duvida que a sociedade está a ser consumida pelas tecnologias de comunicação. Basta olharmos atentamente para a forma como tudo o que nos rodeia se altera, quer a nível económico e politico, para nos apercebermos que a tecnologia e os processos que dela dependem estão totalmente dependentes dela mesma.
Contudo seria impensável a sociedade como a conhecemos, viver sem esta tecnologia, pois ela é vista como algo indispensável em qualquer área da vida humana. Aliás, a velocidade com que a tecnologia avança em termos evolutivos é exponencial, e essa rápida evolução está efetivamente a alterar o comportamento do ser humano. Contudo para Virilio, a utilização massiva das máquinas, levou-nos a uma perda da noção da realidade, sendo a máquina que controla o homem e não o homem que controla a máquina.
O homem é um ser curioso, ambicioso e inteligente, que atingiu um patamar nunca imaginado no que se trata do domínio sobre o conhecimento tecnológico. Mas será que a utilização das tecnologias que ele mesmo construiu está a ser utilizada de forma correta?  
Velocidade é a palavra central dos pensamentos de Virilio quando se fala de ciberespaço. Para este pensador, a realidade é definida por um mundo virtual onde se pode estar em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum, acabando desta forma por se perder a noção de tempo e espaço.
Ele acredita que vivemos de forma superficial na medida em que vivemos  na Era da Dromologia. Esta define o estudo da velocidade –Dromo, do grego – corrida, ou seja a lógica da corrida.
A dromologia é um conceito que surgiu pela primeira vez no livro intitulado “Velocidade e Política” (1977), e assenta no pressuposto de que o que acontece está relacionado com a sua velocidade a que ocorre. É o estudo da velocidade, do ritmo a que estamos expostos enquanto cibernautas. 
Para Virilio a pressa tem como propósito o exagero na superficialidade não havendo espaço para a reflexão. A Era da Dromologia carateriza-se na medida em que vivemos todos numa sociedade em rede, onde o ritmo é voraz, impossibilitando a reflexão sobre os processos vividos, daí a superficialidade que Virilio refere. Deste modo, a relação que Virilio constrói à volta da cibercultura é a de que há uma total perda de liberdade de ação no que conta à escolha pelos cibernautas. Conseguimos nos dias de hoje observar os comportamentos dos indivíduos em geral, incluindo os jovens, que criaram uma dependência obscena na utilização das tecnologias, chegando ao ponto em que não conseguem viver sem a sua utilização. São indivíduos que estão presos à máquina e que “sofrerão o conjunto dos problemas da comunicação, adquiridos no curso dos últimos séculos da técnica” (VIRILIO, 1999, p.43).


Já foram inumaras as vezes em que assistimos a grupos de jovens que se comunicam por via da internet, dando preferência à partilha virtual do “agora”, aquando na presença uns dos outros, privando-se de viver o real.
Para este pensador, a história contemporânea é filha da velocidade, que aliada à guerra formam as fundações da sociedade. Podemos afirmar que, a supervalorização da tecnologia na sociedade aliada à velocidade de informação que presenciamos enquanto sociedade em rede, leva-nos ao abismo da guerra informacional. Virilio chega a comparar a guerra terrestre com a guerra cybernautica. Nos noticiários já assistimos várias vezes a este tipo de situações, tendo como exemplo o caso de Julian Assange com a WikiLeaks.
 Observando a velocidade com que a tecnologia abraça e se apodera da sociedade, Virilio questiona-se se conseguirá a nossa existência quotidiana aguentar o tempo real suportado pelas tecnologias.
A revolução e rápida evolução tecnológica, levou-nos ao encontro de uma nova sociedade, de um novo modo de vida. Enquanto antigamente os esquemas da sociedade eram vistos em pequenas dimensões, onde pequenos grupos de pessoas interagiam presencialmente, hoje em dia o processo do aparecimento deste conceito é de caracter global devido ao desenvolvimento tecnológico quer nas áreas da comunicação, dando um lugar de destaque à internet.
Segundo Castells, o ciberespaço é a sociedade em rede, onde há a partilha e troca de informação.
“A revolução da tecnologia de informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede” (M. Castells)
Por outro lado Lévy vê o ciberespaço como o meio da criação da cibercultura.
Sempre que se fala sobre cibercultura, as opiniões divergem em dois pontos de vista: otimista, em que olham a cibercultura e toda a sua relação com a sociedade como sendo uma relação mais democrata e justa de comunicação; ou pessimista, na medida que acreditam que a sociedade é vítima dessa cibercultura.
Paul Virilio partilha da visão pessimista e marca uma posição anti “Era da Informática”. Ele chega a comparar a Internet com a cultura norte-americana, acusando-a de controlo universal. Caracteriza a internet como sendo um instrumento de opressão das sociedades.
Se nos debruçarmos um pouco sobre a questão pessimista de Virilio, verificamos que a evolução tecnológica, o facilitismo de partilha de algo por parte de cada individuo, através de meios que todos nós conhecemos como por exemplo um blog, o twitter, é exacerbada e exagerada. Essa partilha de informação poderá ser vista como partilha de desinformação, uma vez que todos nós, utilizadores da internet, temos acesso a instrumentos que nos permitem publicar qualquer coisa. O mar de informação ou desinformação é tão vasto que se tornou impossível moderar e avaliar se o que nela navega é autêntico.
Sendo a velocidade o termo central na reflexão de Virilio, podemos invocar a visão de Lévy quando refere que com a velocidade de alteração de informação que circula na rede, torna-se humanamente impossível recolher do todo, uma amostra do que é mais importante uma vez que o “dilúvio informacional jamais cessará.” Levy, P (1999)
Para Virilio, a desinformação que é lançada na internet, é vista como o culminar da vida privada de cada individuo. Tendo em conta que a internet surgiu para fins militares – Arpanet – Virilio mantém esse propósito nesta Rede Mundial que todos nós utilizamos diariamente vendo nela uma arma de destruição.
Em “La fin de la vie privée”, Virilio fala-nos de como o desequilíbrio criado pelo aparecimento do ciberespaço e das novas tecnologias de informação e comunicação, não são apenas as alterações ao nível económico e político mas sim a nível quotidiano. As pessoas dão preferência à vida virtual, onde a curiosidade pela vida alheia, domina grandemente o individuo, tornando-o prisioneiro dos meios informáticos.
Em conclusão, Paul Virílio, filósofo, arquiteto, urbanista, nascido a 1932 em França, anuncia “o ciberespaço”, como “um acidente do real” em que o acidente faz parte integrante da “criação tecnológica”.
Desta forma, o Ciberespaço torna-se numa visão de fachada na qual a realidade sofre acidentes e é destruída, dividida entre o real e o virtual. Para Virilio, a “realidade virtual é o acidente da própria realidade” e partilha uma visão pessimista marcando uma posição anti “Era Informática”, sendo esta uma Era particularmente perigosa, na medida em que vivemos no “tempo máquina” onde o homem surge como um dependente das tecnologias. Esta influência tecnológica, está a alterar o comportamento humano assim como a noção de espaço e tempo.
Com a velocidade da evolução tecnológica, o facilitismo de partilha de informação, através das redes sociais tornou-se uma epidemia ao nível global. O ciberespaço é visto por Virilio como um campo de guerra, onde se travam batalhas de índole política, religiosa, social e económica.
A velocidade é outro termo chave na visão de Virílio, e com ela nasce a Dromologia que é o estudo dos efeitos da aceleração da velocidade nas sociedades. Para Virílio a realidade é definida por um mundo virtual onde se pode estar em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum.
“…esta súbita reversão dos limites introduz, desta vez no espaço comum, o que até o momento era da ordem da microscopia: o pleno não existe mais, em seu lugar uma extensão sem limites desvenda-se em uma falsa perspetiva que a emissão dos aparelhos ilumina.”
Virilio (1993, p.10)
A distância fica assim extinta no seu sentido de dimensão física. Nesta visão dos factos, a existência de uma aproximação física, dá lugar ao anonimato. Não podemos esquecer que nos tempos que correm, as pessoas estabelecem quer ligações quer transações sem precisarem de um encontro físico, provocando o afastamento da convivência social.
Deixo-vos com uma frase de Virilio que nos fará pensar mais um pouco:
“De que serve a um homem ganhar o mundo inteiro se ele termina por perder sua alma?”


(Virilio 1993)
Retirado em https://www.youtube.com/watch?v=KqZOQXkg5SE


Bibliografia:

Castells, M (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1;
Lévy, P (1999). Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Edições 34;
Virilio, P. (1996) Velocidade e Política. Tradução: Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Estação Liberdade;
Virilio, P. (1999) A Bomba Informática. São Paulo: Estação Liberdade.


Sem comentários:

Enviar um comentário