Após as leituras de
alguns autores como Castells e Levy, onde aprofundam os conceitos de Sociedade
em Rede e a Cibercultura, assim como o confronto com as diferentes visões de
Boudrillaurd e Virilio sobre a cibercultura e a utilização das novas
tecnologias, chega o momento de refletirmos sobre a forma como as pessoas se comportam
e se apresentam nesta rede global de comunicação e disseminação de informação.
A mediação digital remodela
certas atividades cognitivas fundamentais
que envolvem a linguagem, a sensibilidade, o conhecimento e a
imaginação
inventiva. A
escrita,
a
leitura,
a
escuta,
o
jogo e a composição musical, a visão e a elaboração das imagens, a concepção, a perícia,
o
ensino
e
o
aprendizado,
reestruturados por dispositivos técnicos inéditos, estão ingressando em
novas configurações sociais.
(LÉVY, 1998,p.17)
A tecnologia e a sua
apressada evolução elevaram o patamar na forma de comunicar e de difundir a
informação. Toda a sociedade como a conhecemos encontrasse dependente das
tecnologias. Assim sendo a tecnologia
é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas
ferramentas tecnológicas.” (CASTELLS, 1999, p.43). Onde e quando, são questões
já ultrapassadas quando se fala em comunicação. A utilização da Internet como
meio de difusão de informação assim como meio de comunicação revolucionou a
nossa forma de estar na sociedade.
As barreiras dos
indicadores sociais, como a idade, a aparência, entre outros, relativizam-se,
quando estamos a estabelecer uma comunicação mediada por computador. Porem, existe
muitas questões inerentes à autenticidade e transparência, quando navegamos ou
difundimos informações na internet.
Quando navegamos na Rede
enquanto cibernautas, adotamos uma identidade digital, que nos identifica
enquanto cidadãos na Rede. A comunicação mediada por computador trouxe-nos a
possibilidade de criar e de reinventar um novo “Eu”. Habilita a criação de
personagens contrárias ao nosso “Eu” real, permitindo fazer passar por quem não
somos, ou fazer passar por quem gostaríamos de ser, como que se fosse uma “nova pele que rege nossas relações” (Levy 1998, p.16). Neste ponto
coloca-se a questão da autenticidade. Até que ponto é que as pessoas são autênticas
quando traçam o seu perfil numa rede social?
Normalmente, nem sempre a
identidade é autêntica. Há sempre a tendência para não revelarmos
autenticamente a nossa identidade como forma de nos protegermos. Por outro
lado, a tendência é de projetarmos nas redes socias, um “Eu” que não o real, e
por isso damos a conhecer o nosso “Eu” ideal, aquele que gostaríamos que os
outros vissem de nós mesmos. Esta tendência de projetarmos um “Eu” que não o
real, muitas vezes está relacionado com medos ou receio de perigos que possam
advir da utilização das Redes Socias.
Há que ter em atenção que
enquanto navegadores da Internet, a nossa vulnerabilidade aumenta, na medida em
que o acesso às informações que colocamos na Rede passa a estar acessível,
mesmo quando tomamos medidas de privacidade sobre os nossos perfis. Em termos
tecnológicos são enumeras as ferramentas que podem ser utilizadas para a
apropriação de contas e de perfis para fins menos apropriados, colocando os
utilizadores por vezes em situações pouco confortáveis.
As pessoas têm
comportamentos diferentes quando interagem através da internet? Esta é outra
questão que emerge desta reflexão. De facto esta forma de interagir facilitou
em alguns aspetos o relacionamento interpessoal. Há quem diga que a comunicação
mediada por computador afasta as pessoas, mas há também quem defenda
precisamente o contrário. Ora vejamos, de uma maneira pratica, quantos
relacionamentos começaram através de um simples chat? Quantas famílias que se encontram
afastadas geograficamente comunicam-se através do Skype?
Por outro lado temos a
dependência, que muitas vezes se cria, em torno destas tecnologias potenciando
o afastamento dos que estão perto de nós. Por vezes assistimos a grupos de
jovens, que apesar de estarem juntos fisicamente, apreciam comunicar-se entre
eles através dos seus tão atuais dispositivos. Deste modo, as pessoas passam a
viver no tempo máquina, dependente das novas tecnologias, expressando uma
alteração do comportamento humano.
A transparência e a
autenticidade de que se falou até então debruçou-se apenas sobre os que navegam
na internet. Já vimos que a identidade dos cibernautas e o seu comportamento
divergem mediante os seus receios ou ideais enquanto seres sociais. Na mesma
medida, uma vez que são esses mesmos indivíduos quem fornecem e difundem na
internet informações, cabe-nos questionar de igual modo a transparência e a
autenticidade da informação que encontramos nesta rede global. Até que ponto a
informação que encontramos no ciberespaço é autêntica e fidedigna? Navegamos
num ciberespaço de informação ou desinformação? Em que medida aquilo que navega
na internet é real? Fará sentido fazermos uma distinção do que é real e
virtual?
A virtualização “não se
trata de modo algum de um mundo falso ou imaginário. Ao contrário, a
virtualização é a dinâmica mesma do mundo comum, é aquilo através do qual
compartilhamos uma realidade. Longe de circunscrever o reino da mentira, o
virtual é precisamente o modo de existência de que surgem tanto a verdade como
a mentira” Lévy (1997, p.148).
Seja de que maneira for
enquanto seres sociais e navegadores do ciberespaço, há que ter atenção e
utilizar mecanismos de defesa na preservação da nossa identidade e privacidade,
assim como aquando da procura de informações, proceder a cruzamentos dos dados
pesquisados de forma a verificar a sua autenticidade.
Deixo-vos um vídeo muito
interessante onde abrange de uma forma bastante elucidativa, o impacto que a
internet nos trouxe nas relações sociais.
Vídeo produzido pela Agência HotWorks
Bibliografia:
Baudrillard, J. (1981). Simulacros e
Simulação.
Castells, M. (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1;
Lévy, P. (1997). O que é o virtual? São Paulo: Edições 34;
Lévy, P. (1998). A inteligência coletiva. São Paulo: Edições Loyola;
Lévy, P. (1998). A máquina universo. Porto Alegre: ArtMed;
Lévy, P (1999). Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Edições 34;
Virilio, P. (1999) A Bomba Informática. São Paulo: Estação
Liberdade;
Virilio, P. (1996) Velocidade
e Política. Tradução: Celso Mauro Paciornik.
São Paulo: Estação Liberdade.
Olá, Ana,
ResponderEliminarBoas reflexões.
É difícil identificar quem é quem nas relações sociais, tanto na rede virtual como real. Porém a forma de camuflar varia em grau, sendo mais utilizada na rede virtual.
Um abraço.
Aparecida
Olá Ana !
ResponderEliminarGostei do texto que nos apresentas e da reflexão feita sobre o tema. Abraço. António.