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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Reflexão Crítica - A Rede como Interface Educativo

There is a kind of 3D effect in these projects:

The tools, the characters, the means used are very much part of the essence of the XXI century. We
https://www.flickr.com
are living it and watching it being lived.
Then there is the thought-provoking use of language and content. It ignites discussions way beyond the walls of a University or the borders of a country. We can’t help but feeling we are atoms of the portrayed reality.
These discussions, triggered by all the provocations on these projects, generate ideas. These ideas are metamorphosed into different types of actions. These actions (and even inactions) have impact on things around us and, suddenly, we can’t help but feeling we are building the portrayed reality.
This is were 3D changes into reality: projects are yours and suddenly we are also responsible for them because we too are the students, the teachers and the citizens. It’s the network society on the move: You are using the machine to change us and education (us educated) to change the machine.

Here are the provocations we clearly found challenging:

“The machine is us(ing) us”




Looking at the web as it stands right now we can clearly understand everything is virtually there, waiting to come out. Multiple virtual possibilities asking for multiple uses, challenging our creativity, our intelligence, our critical and ethical responses.
Can the machine live without us? Can we ignore it? Can we even live without it? 


“A vision of Students today”



The learners’ life experiences defy the status quo of education. It is quite ironic that the technological reality seems a parallel world in that traditional classroom the video shows. It is not essentially about the tools, but about the personal resources to deal with them. Teachers and learners are responsible for that adjustment: we, as students, need to be available to deal with new tools in an educational context; we, as teachers, need to incorporate and learn about them.
Can we keep building knowledge in a traditional way? Does classical education answer the network society needs? Isn’t education more than the academic? Why do we still academically undermine the machine?


“Students helping students”  



When people stop looking at themselves changes happen and it is virtually there, in a collective movement, society will find ways to move through. This new era is asking for changes, each one of us is responsible, but we must not work alone.
Isn’t it clear resources, by themselves, are nothing? Isn’t it clear that the network needs people and solid changes need more than just me? Isn’t all this a collective task?


“The Machine is (Changing) Us: YouTube Culture and the Politics of Authenticity”


The machine is potentially bad and it virtually promotes negative behaviors: egocentrism, manipulation, inauthenticity, and so on. But the machine is also potentially good and it virtually promotes positive behaviors: solidarity, transparency, authenticity, and so on.
It is up to us, and for us to make the right decisions education has a crucial role. The machine changes us, but we are the only ones who can change it too.
Isn’t the machine just another way of being ourselves? Isn’t a positive change completely dependent on our choices and our uses of the network? Isn’t it the role of education to make the web a fundamental resource to change the world?


Faced with your provocations we can’t but to accept the challenge. We’re trying to do or part…  


Equipa Teta




Reflexão Crítica by Equipa Teta


Afinal que sociedade é esta a do século XXI? Que mudanças fundamentais ocorreram nos ecossistemas em que convivemos? Quem somos em rede? Que alunos temos? Que alunos somos? Que alterações incorporámos/ temos que incorporar no ecossistema educativo? Que funções e responsabilidades tem agora a educação e quais são os seus agentes? Qual é/são o(s) espaço(s) da educação? Enfim, que impacto tem a rede na forma como pensamos e agimos em educação?

Se habitualmente acedemos a esta reflexão de forma externa, colocando-nos na perspetiva de observadores e desenvolvendo postulações teóricas sobre o tema, Wesch propõe outra forma de ler a rede: utiliza as suas ferramentas, as suas personagens e os seus meios de divulgação numa metalinguagem objetiva que dá volume e dimensão a estas questões.

Os vídeos em análise, quatro de entre outros realizados por Michael Wesch e alunos seus, foram produzidos entre 2007 e 2009 e publicados quer na sua página www.mediatedcultures.net, quer no YouTube, transportam-nos para esse espaço de reflexão 3D: a comunidade educativa a refletir sobre si própria, a usar as ferramentas que debate para espelhar as análises e a transportar o quadro conceptual da rede para que todos reflitamos sobre uma questão que ultrapassa as paredes brancas de uma escola e a sua estrutura tradicional. Nós também somos rede, nós também somos aqueles alunos e aqueles professores, nós também aprendemos fora da escola, nós também somos as comunidades de interajuda e os agentes isolados de educação.

Michael Wesch, também conhecido como “Profeta de uma Revolução na Educação”, é um antropólogo cultural que explora os efeitos dos novos meios de comunicação de massa na sociedade, cultura e educação. É formado na área da Antropologia e detentor de vários prémios, entre eles “Rave Award Wired Magazine” e “John Culkin para Outstanding Praxis”.

Em “The machine is us(ing) us” o professor dá-nos um panorama dinâmico da máquina, desvanecendo propositadamente os limites do que constitui a própria máquina. Quer o título, quer o vídeo permitem-nos reperspetivar sucessivamente o conceito: a máquina é a rede ou somos nós? Nós usamos a rede ou é ela que nos usa
Interessa iniciar a reflexão neste vídeo na medida em que, na nossa opinião, este documento estrutura ideias transversais a todos os outros vídeos e às reflexões que aqui importa fazer. Ao longo do documento ganhamos perceção de como a máquina (a Internet, mas também nós) é/ somos MULTI. Utilizando ferramentas digitais, Michael Wesch percorre brevemente a história da evolução da Internet e clarifica o seu funcionamento, mostrando as suas potencialidades e questionando permanentemente a audiência relativamente à força motriz que MULTIplica e concretiza o virtual.

Michael Wesch, dinâmica e criativamente (como a(s) própria(s) máquina(s)), apresenta-nos uma rede que é MULTI, porque em si tem MÚLTIplos recursos, MÚLTIplos conteúdos, MÚLTIplas ferramentas e porque virtualmente (no sentido do virtual de Lévy) permite a MULTIplicação de cada um destes MULTI de forma infinita e universal. Do outro lado, coloca o responsável por esta MULTIplicidade da rede: o Eu-indivíduo e o eu-coletivo, o eu MÚLTIplo que somos, a MULTIplicidade de conhecimentos, ideias, opiniões, valores, etc que transportamos para a rede, a MULTIplicidade de funções e utilizações que lhe adicionamos permanentemente num processo versátil e intelectualmente exigente (ou assim se espera).

Pode a máquina sobreviver sem nós? Podemos ignorar a máquina? Podemos, sequer, viver sem ela? Provocação número um.

Instigadas as reflexões sobre os mecanismos e impactos das ferramentas digitais, “A vision of Students today” agita o status quo da educação. Alguns dados provocatórios sobre os hábitos dos alunos recolhidos em inquéritos levados a cabo por Wesch e as suas turmas revelam o elo profundo entre a máquina (no sentido de tecnologias da informação e da comunicação) e a vida pessoal e processos de trabalho. Os dados são apresentados na primeira pessoa, ironicamente num anfiteatro convencional de uma universidade com a estrutura e as ferramentas clássicas de aprendizagem, contrastando profundamente o cenário geral com as reflexões apresentadas que sugerem uma crescente vivência social e académica ligada à rede. Esta ligação é tal que permite processos de autoaprendizagem que a educação formal tem descurado profundamente e facilita uma gestão da informação que faz com que a aprendizagem saia muitas vezes fora do total domínio e alcance da figura tradicional do educador.

O vídeo sugere que o interesse dos alunos e o percurso das suas aprendizagens está longe daquilo que é a prática educativa comum e, por isso, esta está longe de os estimular, preparar, acrescentar ou até acompanhar.

As ferramentas estão lá, estão a ser quotidianamente utilizadas por quem aprende mas também por quem trabalha. Numa economia do conhecimento podemos continuar construir conhecimento da mesma forma? A formação clássica responde às necessidades e interesses da sociedade em rede? Não tem a educação uma função que cada vez mais transcende o académico? Porque continuamos a olhar com descrédito a máquina? O facto de os alunos já usarem estas ferramentas desresponsabiliza os educadores de os preparar para as usarem com verdadeira validade intelectual, cultural, social e económica? Provocação número dois.

Numa outra abordagem, Wesch provoca reflexões sobre a dimensão comunitária da sociedade através do vídeo “Students helping students”, em que alunos da universidade de Kansas ajudam, de forma descomprometida e criativa, vários colegas da Universidade.
O resultado obtido quando os indivíduos deixam de olhar apenas para si mesmos, é a transformação do todo e é nesse movimento que reside, em potência, a mudança da sociedade.
O vídeo claramente reflete que o Eu-indivíduo é responsável pela mudança, mas não o eu-isolado. Cada um MULTIplica a rede, movimentando conteúdos e utilizando de formas inovadoras as suas funções e, neste processo, EU sou responsável mas não ajo só, ajo em estrutura social (Castells) e se o fizer em comunidades de prática mais organizadas (Lévy) mais adiciono e com maior consistência. Se no vídeo anterior se pensavam os novos formatos de construção de conhecimento e se impelia à mudança, neste vídeo sugere-se que nada disto acontece sem a integração da essencial dimensão comunitária que faz funcionar a sociedade.
Não é evidente que os recursos por si sós não são nada? Agilizá-los na rede envolve pessoas e torná-los sólidos exige mais que um EU? Tornar a rede um interlocutor educativo não é também uma tarefa coletiva? Provocação número três.
Na palestra “The Machine is (Changing) Us: YouTube Culture and the Politics of Authenticity” Michael Wesch mantém a linha de análise na verdadeira experimentação da rede e dos seus mecanismos para dar corpo à reflexão sobre as ferramentas digitais e a sua influência no nosso comportamento.
Recorrendo aos livros: Brave New World de Aldous Huxley, 1984 de George Orwell e Amusing Ourselves to Death de Postman Wesch foca a audiência numa leitura recorrentemente negativa da sociedade mediatizada para nos transportar para as alterações não menos negativas que as ferramentas digitais adicionaram à visão da sociedade atual. Wesch insiste na perspetiva de que tudo indicia que a sociedade do século XXI é individualista, narcisista e indiferente perante o outro. Socorre-se da análise da evolução do termo whatever na cultura anglo-americana para comprovar esta visão. Socorre-se da noção de que é na relação com o outro que nos espelhamos, provando que a rede permite, de facto, comportamentos egocêntricos, inautênticos e manipuláveis que adicionam validade à perceção negativa generalizada.
Construindo com o público um crescendo pessimista sobre a rede (corporizada no YouTube) e refletindo sobre a forma os novos media constituem as novas formas de nos conhecermos a nós próprios, surpreende com exemplos que antagonizam com esta visão do ciberespaço. Prova, com vídeos do YouTube, que o quadro negativo pode ser contrabalançado pela própria rede: esta permite ligações sem limites, facilita a livre expressão e permite uma maior desinibição o que, sem dúvida, pode ligar mais do que distanciar, pode tornar mais autorreflexivo do que inconsequente e vazio, pode tornar mais todo que só.
De facto, “The machine is changing us” mas não nos usa simultaneamente para a mudarmos? Não é esta apenas outra forma de sermos nós? Não poderá residir na forma como nos apropriarmos das suas ferramentas e dos seus conteúdos o segredo para que a mudança seja positiva? Não reside na educação esse papel de tornar a rede o espaço e o veículo para uma mudança de fundo? Provocação número quatro.
Mais que respostas, Wesch preocupa-se em colocar as provocações certas. Trata de desacomodar-nos, de educar-nos usando a rede e as suas ferramentas, de infiltrar-nos com o sentido da responsabilidade nesta rede que, ao contrário do que poderia parecer, não tem no isolamento e no egoísmo a sua essência. No entanto, fica claro que a máquina pode ficar definitivamente na sua faceta Mr Hyde se a educação não reconhecer o papel da rede e o seu papel na rede. O estudo “Apropriação das ferramentas de uma rede social pelos alunos: um estudo com o SAPO Campus” 1 espelha precisamente isso, é fundamental que os professores “provoquem” (e Wesch fá-lo tão bem!) nos seus alunos o uso da Web 2.0 para que estes adotem as ferramentas necessárias para a usar das formas mais diversas e mais criticamente ativas.

Os vídeos deixam claro que os recursos e as ideias por si sós não mudam nada e que mudar é mais do que ir de encontro aos interesses dos indivíduos. Mudar é identificar as necessidades que as novas realidades impõem (o que muito bem podem incorporar os interesses), percebê-las e incorporá-las. A mudança só se opera verdadeiramente se for além da mera introdução de ferramentas e se não se reduzir a ela: mudar implica apropriar-se de métodos, de técnicas, de competências intelectuais, éticas, culturais, etc. Só a educação pode operar neste sentido. Só a integração do individual (autoformação) com o coletivo (comunidades de prática), tem sentido neste novo contexto social. Só a manipulação das ferramentas da rede prepara para o seu uso.



Fica, pois, clara a provocação final: não é só a rede como interface educativo que deve ser perspetivada, é fundamental que também se pense na educação como interface da rede.

Equipa Teta

1 Oliveira et al (2014). “A apropriação das ferramentas de uma rede social pelos alunos: um estudo com o SAPO Campus”, Indagagio Didatica, vol 6, Nº 2, pp159‐172.  

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